sábado, 14 de junho de 2008

Sexta-Feira 13... A "Caça às Bixas" continua no Exército


Há alguns dias atrás, a prisão do sargento Laci Marinho de Araújo, estampou as manchetes de vários jornais pelo país.

Hoje foi a vez do sargento Fernando de Alcântara Figueiredo.

Há propósito: Laci e Fernando são gays, vivem juntos há 11 anos.

Até aí nada demais.

O detalhe é que eles assumiram isso publicamente numa entrevista que ganhou a capa da revista Época da semana passada e em seguida deram uma entrevista no programa Superpop, da RedeTv!, apresentado por Luciana Gimenez. Ao final do qual, ocorreu a prisão de Laci.

O fato movimentou organizações de Direitos dos Homossexuais, assim como organizações de Direitos Humanos. Estas alegam atitude de preconceito e homofobia por parte do Exército, o Exército desmente as alegações...

Eu não assisti a entrevista, por dois simples motivos:
1º Não assisto TV;
2º Se assistisse, não iria escolher o Superpop!

Também não li a reportagem da Época, apesar de considerá-la uma boa revista.

No entanto, não é novidade para ninguém o tabu da homossexualidade no Exército Brasileiro. Se não existisse, sem dúvida, uma reportagem como essa não seria capa de uma grande revista.
Todo e qualquer jovem em idade de alistamento militar sabe que basta dizer na entrevista que é gay, ou sugerir algo do gênero, para ser imediatamente dispensado.

Agora vejamos: o casal de sargentos concedeu a entrevista para a revista, e para o programa de TV.
Minutos antes de terminar o programa, a Polícia do Exército tinha cercado os estúdios da emissora para executar a prisão do sargento Laci.
Operação de cinema: homens armados com fuzis FAL de uso exclusivo das Forças Armadas, pistolas e etc. Invadiram os estúdios ainda antes do programa terminar, sem sequer terem em mãos ainda o mandato. Escalas superiores, magistrais inclusive, ordenaram a execução imediata da captura, e que se utilizassem todos os meios “cabíveis e indispensáveis”. A urgência e gravidade eram tamanhas.

Motivo? Crime de deserção!
Havia uma ordem de prisão emitida já em 21 de maio pela Justiça Militar, solicitando a captura dele.

Quer dizer, o sargento foi preso porque era desertor do Exército. Não porque assumiu pública e polemicamente sua opção sexual. O Exército divulgou uma nota austera explicando isso: estavam apenas cumprindo o regimento, como aconteceria em qualquer outra situação. É maldade acreditar que o show foi em retaliação à atitude dele... nunca!

Será mesmo que esse pessoal considera o povo tão estúpido? Será possível que as nossas “respeitáveis e honoráveis autoridades” nos consideram assim tão incapazes de pensar?

É impossível alguém me convencer que foi mais fácil capturar o sargento num estúdio de TV em São Paulo, do que no apartamento funcional na área militar onde ele residia em Brasília. Afinal, o que a justificativa do Exército sugere é que desde 21 de maio não foi possível localizar o sargento. Será que as Forças Armadas não possuem registros com os dados dos seus servidores?

E das consultas médicas do Hospital Militar? Afinal, o “desertor” passou por consultas e tratamento médico no hospital do Exército em Brasília algumas vezes durante esse período pós-mandato/pré-prisão.
Aliás, no mesmo hospital onde ele servia. Ou seja, temos um “desertor” com presença confirmada e registrada na sua unidade de serviço. Então onde está a deserção?

Isso sem contarmos os laudos médicos que atestam a inaptidão dele para o trabalho em razão de problemas psiquiátricos e afins.
Todos estes que obviamente foram refutados pelo Exército, valendo somente o laudo deles que considera o contrário.

E foi em função dos mesmos regimentos próprios que as Forças Armadas possuem, que o outro sargento, Fernando, companheiro do Laci, foi preso nesta sexta-feira.

Motivo? Vários... essencialmente “transgressões disciplinares”.
Porque ele teria se afastado do trabalho e viajado a São Paulo sem autorização, se apresentado à imprensa sem uniforme do Exército e omitido informação sobre o paradeiro do sargento Laci Araújo.

Ele teve oportunidade de apresentar defesa prévia. Foi preso logo após apresentá-la... Novamente o Exército considerou inaceitáveis os argumentos da defesa dele. E cumpre estritamente o que reza o seu regimento próprio.

Mas de que valem os argumentos de defesa do sargento, se estes são baseados na Constituição Federal, não é mesmo?

Não há dúvida que o Exército tem grande preocupação com sua imagem e reputação, exatamente por isso pune o militar que se apresenta à imprensa sem a farda oficial.

Mas é claro que essa preocupação se resume somente à roupa, não tem nada haver com ele estar num programa de TV junto com o companheiro assumindo-se como “o primeiro casal gay do Exército Brasileiro”!

Mas a retaliação tem um fundo mais relevante que a homossexualidade. Como todo gay sempre dá o que falar, com estes não seria diferente...

Não me refiro à reportagem nem ao frisson na mídia. Não, nada disso!

O detalhe mais intrigante dessa história toda, desapareceu nas entrelinhas das notícias... É que os “indisciplinados” sargentos, antes de ficarem famosos, levantaram suspeitas de corrupção e desvio na administração do hospital em que trabalhavam.

Levaram uma denúncia, muito bem elaborada e embasada ao que parece, ao Ministério Público, e desde então começou a encrenca.

Daí nasce a "Caça às Bixas", em analogia à Inquisição... Afinal, existem grandes similaridades nos procedimentos dessas instituições de "grande credibilidade". Tanto o Exército quanto a Igreja se regulam por leis próprias internas, ambos são viabilizados por um massivo contingente de servidores homossexuais, em ambos reina a hipocrisia, e assim as similaridades seguem... Divergem somente no campo em que o Exército vale-se de suas leis para cometer crimes contra seus servidores, enquanto a Igreja vale-se das suas para encobrir os crimes dos seus.

Resta somente a pergunta: e se, acidentalmente claro, um sargento desses viesse a falecer? O Exército garantiria prontamente ao outro os direitos de cônjuge, assim como garante às esposas ou filhos de militares falecidos? Ou o seu regimento interno passaria a ser questionado pela inexistência desta previsão nas leis civis?

2 comentários:

Lealdade Feminina disse...

Realmente inacreditável tudo isso ainda acontecer, e no Brasil, pois afinal até temos uma certa tolerância com a diversidade... pelo menos muito mais do que em outros países europeus, árabes, e mesmo norte-americanos...
Pode traficar, pq é muito pertinente...

Anônimo disse...

ISSO TUDO ME CANSA. Mas já anunciaram a falência da consciência, não sei aonde é que a gente ainda acha essas coisas escandalosas. Parafraseando um poema de Anna Carbonera, minha mentora:

"Quando crescer quero ser freira, corrupta
Num mundo de corruptos, serei número..."