sábado, 7 de junho de 2008

2008 - O Ano de Hator



A soma dos algarismos do ano nos leva ao número 10 (2+0+0+8=10).

Recorrendo ao Tarot, encontraremos o décimo arcano maior, ou “A Roda da Fortuna”.

A “Roda da Fortuna”, ou simplesmente “Fortuna”, é um conceito universal muito difundido, extremamente comum à todas as culturas antigas e igualmente nas modernas.

O que os antigos entendiam por esse conceito é hoje vulgarmente compreendido por “sorte”. Um conceito binário :“Boa fortuna e má fortuna” (ou “boa sorte e má sorte”, ou mesmo “sorte e azar”).

Se tentarmos buscar as raízes ocidentais disso, encontraremos a Deusa Fortuna, de Roma. Trata-se de uma divindade mais antiga que o Império, que teve seu “sentido” popularizado como Deusa da sorte, do destino, cujo poder possibilitava determinar a felicidade e a vitória ou a infelicidade e a derrota. Júlio César é um personagem histórico, de cujos relatos têm-se referências ao temor/reverência que o mesmo tinha pela Fortuna.

Então, para que o conceito fique claro, usá-lo-ei de exemplo aqui: é como se mesmo estando em grande vantagem em todos os sentidos, com tudo absolutamente estável e sob controle, diante de uma batalha ou um inimigo qualquer ele reconhecesse que anceps fortuna belli, literalmente “a sorte na guerra é ambígua” ou “quem decide é a Fortuna”.

Estamos falando do inesperado, da surpresa, do insondável que nos aguarda no momento seguinte. Do potencial de mudança inerente à tudo. Do Universo que está em constante movimento, e em constante mudança.
Essa potencialidade de mudança e movimento universal é expressa no Arcano da Roda.

No Tarot Visconti-Sforza, vê-se uma figura angelical vendada no centro, e além dela, mais quatro figuras aparecem. A primeira, no alto, parece com a figura clássica de um querubim, só que traz um par de orelhas de asno e empunha um cetro, símbolo do poder, traz consigo a palavra Regno (eu reino) . A segunda, que segue em direção ao topo, tem um par de orelhas de asno que estão em desenvolvimento; traz Regnabo (eu reinarei) . A terceira figura, que se dirige para a base, não apresenta orelhas de asno, mas tem cauda do animal, trazendo a palavra Regnavi (eu reinei). Por fim, vemos um ancião que parece sustentar a roda, em posição de um quadrúpede, com as palavras Sum Sine Regno (estou sem reino).


O que me interessa aqui é somente demonstrar a idéia de que somos impotentes frente a força na Natureza e incapazes de determinar o momento seguinte.

Claro que esta é uma definição extremamente superficial do sentido que este Arcano evoca, o significado do arcanum expresso numa lâmina do Tarot jamais poderá ser entendido simplesmente pela alusão pictória, tampouco por comparações entre suas figuras e outras quaisquer.

Mas, apesar de percebermos nossa impotência e pequenhez diante da grandiosidade da Natureza/Universo, esta é sempre bondosa e complascente para conosco.
Isso também é representado neste Arcano, uma vez que o “giro da roda” sempre anuncia uma mudança positiva, assim como crescimento e prosperidade.

Fortunae, originadora do nome da carta, também reunia essas mesmas características. Da mesma forma que todas as Deusas equivalentes em todas as outras culturas reúnem.

Ela era cultuada como a Deusa da Sorte tanto como Deusa da Agricultura, da Terra, da Vida e da Morte.

Nessa reunião de características múltiplas, resume-se a regência de 2008.

Eu tenho uma simpatia particular pelo Antigo Egito, e por isso acabo trazendo a “versão egípcia” da Deusa do Ano à frente.




Assim chegamos à Hator, cujo nome original é algo próximo de Het-Heru, e significa "casa de Hórus" ou mais literalmente "morada do sol".
Hator é a personificação que os egípcios deram à Grande-Mãe Universal. Seu culto remonta a períodos pré-dinásticos e atravessa toda a linha do tempo até o perído tardio.

Percebo a torpidez com a qual nós conhecemos a religião egípcia quando leio algo como “Hator era, junto com Ísis, a deusa mais popular do Egito Antigo” ou ainda “Hator era associada com Ísis e com Bastet, porém, esta Hathor mais conhecida é a reformulação de uma Hathor pré-dinástica, muito mais antiga que foi tomando características de outras divindades com o passar do tempo”.

Ora, os egípcios tinham uma compreensão da Deusa, do Feminino, da Natureza e do Universo que exige que tiremos a venda da “educação patriarco-cristã” para que possamos entender suas divindades e símbolos.
Nunca existiu transformação, nem tomada de característica alguma. Hator é a Deusa, unificada em todas as suas facetas, é o Feminino Uno/Trino/Multíplice. Eu gosto muito de nivelar as atribuições pelo Egito Antigo, porque na mitologia e religião egípcia está muito claro a idéia da Universalidade da Deusa.

Hator é todas as Deusas do Egito.
Ela é a Senhora que gera abundância na terra e sustenta o céu.

Todos aprendemos que o centro da religião egípcia era o culto do sol. E é verdade.
O sol é o centro do nosso sistema planetário, dele provêm a luz, o calor e por consequência a possibilidade de vida no nosso planeta.
Logo, o centro da religião egípcia era a Vida.

Também aprendemos que o sol era representado por um deus chamado Rá, e mais tarde Amon-Rá. Também é verdade. O problema é que aprendemos só isso!

Qualquer pessoa que se prestar a ler alguns capítulos do Livro Egípcio dos Mortos, que creio eu, seja o maior documento remanscente das crenças deles, vai perceber que eles nunca glorificavam o sol sem juntamente louvar quem o sustenta: o céu, sua Mãe. Que, há propósito, é Hator.

Assim como nunca ali faz-se referência a atuação de um deus sem citar a Deusa que personificada como esposa, ou mãe ou irmã, provê e possibilita que o poder daquele deus se manifeste.

Quer dizer, os egípcios entendiam o Universo como Mãe, a origem de tudo como provindo d’Ela (uma das formas como se referem à Hator é “Deusa de Milhões de Anos”). Um grande útero que a tudo gesta, sustenta e recicla, o tempo todo. Por isso representavam todas as importantes leis da Natureza como Deusas: a vida (Ísis), a morte (Néftis), o equilíbrio (Maat), etc.
E a totalidade e harmonia dessas leis, assim como a benesse da Natureza para com os humanos é Hator.




No famoso templo de Dendera, as colunas possuem capitéis com rostos de Hator dos quatro lados. É nesse templo que havia a representação da abóbada celeste e do mapa do céu. O simbolismo das colunas está ligado à um, dos muitos, títulos com os quais Hator é aclamada: Senhora dos Quatro Cantos do Céu.

Ela é a Grande Mãe-Orientadora, uma vez que pela observação do movimento dos astros eles podiam se localizar no tempo e no espaço.

Há também um quádruplo sincretismo sobre Hator, onde ela é a vaca celeste (mantenedora da vida na terra), a leoa (Sekmet: o caos, a força destrutiva, o instinto selvagem da Natureza), a gata (Bastet: beleza, amor, fertilidade e maternidade) e a serpente (Uadjit, o espírito, a imortalidade, a transformação).

Hator também estava ligada à alegria, às artes, à música, ao êxtase, e são muitos os aspectos para se explanar, farei isso em postagens posteriores.

O que importa é entendermos que nesse ano, sob a regência de Hator, somos convidados à “atingir o centro da roda”, buscarmos orientação na única fonte que realmente pode entender o momento porvir: nossa Alma.

O ano de Hator é um convite ao entendimento da graça da vida, ao desfrute das maravilhas que nos são amorosamente proporcionadas à cada dia pelo Universo.

É um ano para que desenvolvamos a virtude da Gratidão, e principalmente do respeito à vida em geral.

Compreender as leis imutáveis do Universo-Mãe e orientar-se por elas nos leverá certamente ao encontro da realização onde nos aguarda Hator, a Deusa do Oásis.

Portanto: siga sua Alma, viva, ria, cante, dance, obedeça seu instinto, ouse ser você, único e autêntico, pois Fortes fortuna adiuvat (ao ousado, a Fortuna estende a mão)!

4 comentários:

Anônimo disse...

Óh Fortuna, Velut Luna, Statu Variabilis!

Interessante simbolismo. A "Casa do Sol", ou seja, o Céu. Feminino, como o Egito considerava ser os atributos reais. Atribuição às mulheres, que aos homens levavam aos céu... Épocas imortais, se ousássemos dizer: Saudade delas.


Adash

Lealdade Feminina disse...

E por si move...
(antes que venham as novas fogueiras da velha inquisição...)

Anônimo disse...

Lindo Blogue, Zaziel. Estou em falta consigo, mas muito grata pela sua proximidade e ligação à deusa...fico muito sensibilizada pelo nosso elo.Pela sua fidelidade a Senhora do Céu, Hathor, a rainha...
Havemos de nos ver um dia...aqui ou aí e dar aquele abraço...

Rosa Leonor

Rafael Ramesses disse...

texto otimo!no entanto, quando vc fala que nunca existiu uma "tomada de caracteristicas alguma",esta cometendo um erro!as divindades egipcias, por vezes, tomavam os atributos e locais de culto de outras Divindades mais antigas!assim como Osiris, tomou muitod atributos que pertenciam aos deuses Sokaris e Ketanamentiu, Deuses da Morte, mais antigos q Osiris.Assim como Isis, quando seu culto espalhou-se pelo mediterraneo,tomou muitos aspectos de Hator e de outras Deusas egipcias.