sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Velut Luna - Parte I

Desde sempre a Lua exerce um grande fascínio sobre a humanidade. Sobre mim, em particular, tanto mais. E isso vem se acentuando no decorrer deste ano regido por ela.

Entre todos os povos, religiosa ou apenas culturalmente, há a associação de uma série de conceitos com a Lua e a crença de que ela possa influenciar as coisas sobre a Terra. O binário Sol/Lua é análogo a todos os conceitos de opostos complementares que conhecemos, inclusive e especialmente à ideia de gênero.


Enquanto o Sol, governante da luminosidade do dia, verdadeira fonte da energia e calor que sustenta a vida, é associado a valores como: positivo, masculino, ativo, razão, lógica, força, vigor, objetividade, consciência, lucidez, estabilidade, etc.

À Lua, senhora da noite que nos ilude com cálidos raios prateados que não são seus, se faz toda a atribuição oposta: negativo, feminino, passivo, emoção, intuição, fragilidade, fraqueza, subjetividade, inconsciência, devaneio, variabilidade, etc.

Por isso, é a Lua/Noite que se costuma relacionar tudo aquilo que não é regrado, ordinário. Como certos tipos de estado/temperamento: a Lua dos apaixonados, românticos, sensíveis, artistas, boêmios, loucos, desajustados, etc. Além, claro, das fantásticas criaturas das trevas: vampiros, lobisomens, fantasmas e assemelhados.

Na própria língua se percebe isso claramente quando não raro ouvimos algumas expressões comuns:

“Fulano é de Lua” – para expressar que é uma pessoa de humor imprevisível.

“Fulano vive no mundo da Lua” – pra indicar que a pessoa é sonhadora, desligada, fora da realidade.

“Fulano nasceu com a bunda virada pra Lua” – para dizer que alguém tem muita sorte.

“Lunático” – sinônimo para louco, insano.

Talvez a mais intrínseca de todas seja a ideia de inconstância/variação, motivada especialmente pela Lua aparecer em constante mudança no nosso céu. São as famosas “fases”.


Inerente a essa alternância das fases, existe a crença de que a influência da Lua, dependendo da fase em que encontra, possa ser favorável ou não aquilo que se vá fazer.
Todo mundo conhece a história aquela que na Nova as coisas se renovam, na Crescente crescem, na Cheia ganham o máximo de amplitude e na Minguante diminuem. Deste modo, diz-se que a Lua atua sobre a geração, formação e o desenvolvimento de todas as coisas na Terra. Por isso é comum se observar as fases antes de realizar plantios, podas e colheitas das plantas. De cortar cabelos e unhas. Diz-se também que a troca da Lua precipita o nascimento em gestações avançadas.

Confesso que fiquei bastante surpreso, ou talvez decepcionado, ao descobrir que nenhuma dessas crenças populares em torno da Lua tem validação científica. Nenhuma!

Mas o número de partos não aumenta na Lua Cheia? Não. Pelo menos nada que pudesse se constatar estatisticamente.

Mas e as plantas não nascem e dão frutos melhores se plantarmos na Lua certa? Pois é, não. Pesquisadores vêm testando Luas plantios em Luas "boas" e "ruins" e não deu diferença nos resultados.

E os lobos que uivam pra Lua cheia? Pois é, não é pra Lua que eles uivam. É para chamar outros lobos pra caça, para demarcar território caso estejam sendo invadidos, pra se comunicar. E não é na Lua cheia, é em todas. A cheia só é mais badalada porque a luminosidade dela favorece a caçada noturna, só isso.

Decepcionante, não? É a Lua novamente nos lançando ilusões!

A única exceção são as marés, só. E ainda assim tem muito mais a ver com o aumento da força gravitacional do Sol do que com a Lua em si.

Mas aí eu lembrei que tomar banho de sal grosso ou plantar arruda na frente de casa também não possui nenhuma validade científica e deixei isso pra lá.

O fato é que sempre percebi uma mudança drástica e involuntária no meu humor em um determinado período do mês. Costumava brincar que se eu fosse mulher esse seria meu período menstrual!

Até que há alguns dias atrás, casualmente ajudando uma amiga a programar uma espécie de encantamento de acordo com a Lua, percebi que esses altos e baixos coincidiam com as mudanças de fase lunar.

Isso automaticamente me lembrou de uma música lindíssima, entitulada "Hijo de la Luna", originalmente da banda espanhola Mecano, que ganhou numerosas versões e eu acabei conhecendo na voz de Sarah Brightman.



[Letra e tradução disponíveis aqui.]

A música conta a história de uma cigana que pede à Lua por um marido. A Lua por sua vez propõe lhe conceder o desejo, desde que a cigana lhe entregue o primeiro filho do casal. A cigana questiona no refrão o que a Lua de Prata, que quer ser mãe mas não pode, fará com uma criança de pele? A Lua diz que se a mulher está disposta a trocar o filho por um marido, é porque não o amará realmente.

A cigana se casa com seu sonhado cigano e quando a criança nasce, ao invés de morena como os pais, é branca de olhos cinzentos. O cigano enfurecido acreditando ter sido traído mata a mulher a abandona a criança no alto da montanha.

A canção finaliza dizendo que quando a Lua está cheia é porque a criança está bem. E que quando chora, a Lua então míngua para lhe fazer um berço.

“Nossa, que lindo! Sou como o tal hijo de la luna!” – poderia pensar eu. Mas não, na verdade sou apenas desequilibrado.

Ignorando minha natural tendência pagã e todos os aspectos astrológicos formados pela Lua no meu mapa, posso me ater somente ao signo e isso me levará ao arcano XVIII – A Lua do tarô.


[Arcano XVIII - A Lua - Cosmic Tarot]

Que era onde eu pretendia chegar desde o princípio, mas a postagem acabou ficando muito extensa, então deixo para a próxima parte.




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Um comentário:

Sabrina Luz disse...

Misterioso. Gostei muito. Mentira, eu adorei. Sempre acompanho os seus textos, são bem excitantes. Um beijo, querido.