ATENÇÃO: essa postagem pode conter spoilers!
Foram somente dois fatores que me fizeram querer assistir este filme desde o primeiro anúncio:
1- Ser dos mesmos produtores do Alice in Wonderland (Tim Burton, 2010).
2- Ter uma Rainha Má linda e glamourosa como Charlize Theron.
Não há de se esperar muito de filmes deste tipo. No entanto, essas releituras de contos de fada sempre trazem novos sentidos a elementos da história original e acabam por refletir o que a sociedade está vivendo naquele momento. Foram detalhes deste tipo que mais me chamaram atenção ao assistir o filme.
Antes disso, caberia uma pausa para dizer que a produção realmente faz jus ao esperado, a fotografia, as locações, os efeitos especiais são maravilhosos!
E pra aqueles que, assim como eu, sempre preferem as vilãs, Charlize não decepciona em nada. Na minha opinião o filme poderia muito bem ter se chamado “Ravena - The Evil Queen”.
Mas enfim, o que eu achei interessantíssimo foi o filme ter se focado em um embate que acontece literalmente “entre mulheres”. Valendo-se de pontos muito inerentes ao feminino para desenvolver seu enredo e deixando o papel das figuras masculinas correrem em segundo plano.
Apesar de preservar sua característica geral, parece que a sociedade não entende mais as figuras da Princesa Boazinha e da Rainha Má segundo os velhos moldes, mesmo que seja em um conto desse tipo.
Desta vez, temos uma Rainha/Bruxa Má cuja maldade está fundamentada no desejo de vingança contra o mal causado à sua família/povo pela dominação violenta de um rei velho.
Do outro lado temos uma Princesa, que apesar de dócil, não atende mais ao perfil frágil e romântico dos antigos contos. Ela é uma sobrevivente, que luta corajosamente por seus ideais e culmina a trama reconquistando seu reino perdido vestindo armadura, empunhado espada e escudo e convocando seu povo à guerra.
A ferida de valores implantados pelo patriarcado, como a objetificação da mulher e a rivalidade entre elas, fica explícita o tempo todo na trama. Desde o momento em que, no leito de núpcias, a rainha diz ao rei algo como que as mulheres só têm valor enquanto jovens e bonitas, pois quando ficam velhas são descartadas e entregues aos cães, antes de assassiná-lo. Até o ponto fatídico em que o espelho diz a rainha que seu poder está ameaçado pela beleza de alguém que “hoje torna-se mulher”.
Tudo gira em torno da obsessão por beleza e juventude, representados como que sendo a fonte do “poder” que a rainha tanto persegue. E naquela cena clássica da maçã envenenada ela não usa o disfarce da velhinha. Ao invés disso, transforma-se no próprio “príncipe encantado”, para depois de ludibriar a princesa que sofre as dores do veneno, questionar-lhe se agora percebe como o amor é uma ilusão perigosa. E não, também não é o beijo do príncipe que desfaz o encanto. Pois o filme deixa reis e príncipes relegados a um plano coadjuvante.
No “final feliz” mais um detalhe me surpreendeu: nada de casais apaixonados que “viveram felizes para sempre”. A princesa, que volta da morte para reconquistar seu trono e seu reino, aparece sendo coroada para reinar sozinha. Como soberana única, sem um rei, sem um par, atentando contra o velho dogma da necessidade de um homem para ampará-la.
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