quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Les Reines Noires de Agache

Foi nos créditos da impactante "La roue de la Fortune" que vi pela primeira vez esse nome: Agache, há alguns anos atrás.
Vi-o novamente há poucos dias, dessa vez com a sua "L'Épée", então fui buscar conhecer suas outras obras e me apaixonei!

Como leigo absoluto que sou, meu contato com as artes é bastante instintivo.
Eu olho. Gosto ou não gosto. Me toca ou não. Me diz alguma coisa, ou não me diz nada.
E nesse caso, as pinceladas funestas de Agache me dizem, sim, e muito!

Não me contive em fazer uma analogia, de toda inútil, porém irresistível, com as Rainhas do Tarô. Obviamente, isso não representa nada além daquelas infames "comparações de figurinhas"...

Então, vamos às "Rainhas Negras" de Agache.

OUROS


[La Diseuse de Bonne Aventure, 1895] [Rainha de Ouros - Thoth Tarot - Crowley/Harris]

A mulher portando o globo, nesse ambiente telúrico de verde/dourado/negro/marrom do quadro me lembrou de imediato a carta do Thoth, onde a Rainha aparece "entronizada sobre a vida da vegetação", e o disco tradicional ganha a tridimensionalidade de um globo/esfera.


[Rainha de Ouros - Antichi Tarocchi Liguri-Piemontesi][Fantaisie, 1907]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .[Cover / Dodal / Ottone]

Em alguns baralhos clássicos, além do disco/globo, ela também porta um cetro/bastão. Isso, acrescido da similaridade da posição e do traje me fez ver algo em comum entre as cartas e essa pintura dele.

Ainda nos domínios da Dama de Ouros, caberia uma outra obra, intitulada "Vanité".


COPAS



[Enigme, 1888]. . . . . . . . . . . . . . . .[Rainha de Copas - Thoth Tarot - Crowley/Harris]


Sim, as cores são destoantes. Mas a composição é muito semelhante, a pose delas é idêntica e os elementos encontram paralelos em ambas as imagens. Até mesmo a ave que aparece aos pés da rainha na carta, tem seu correspondente no emblema de Ísis/Mut estampado no alto da parede, no fundo do quadro.

Curiosamente, essa obra é chamada "Enigme", e me remete muito a forma indecifrável com a qual foi representada essa Rainha no Thoth. Nas palavras do próprio Crowley sobre ela:

"A imagem dela é de extrema pureza e beleza, com sutileza infinita; ver sua Verdade é dificilmente possível pois ela reflete a natureza do observador com grande perfeição."
(O Livro de Thoth, p. 153)

Quando esta obra foi exposta, em 1888, era acompanhada por um excerto de poema de Edmond Haraucourt, dizendo:

"Sacerdotisa do enigma e filha do mistério / Eu guardo sob o céu os segredos do que ele quer fazer / E eu sei do futuro como um fato consumado. / Mas eu fechei a minha alma austera / No orgulho do silêncio e da paz do esquecimento." (tradução livre)

[Étude, 1910]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .[Rainha de Copas - Medieval Scapini]


Neste outro caso, a comparação se deve apenas pelo semblante plácido, cingido por uma coroa e um véu esvoaçante e, principalmente, pelo gesto da mão sobre o peito, referência ao coração (Copas), feita por ambas.
Eu não consegui decifrar o que ela segura na outra mão, tampouco obtive essa informação pesquisando acerca. Se alguém conseguir entender, por favor me avise!


PAUS



[Magicienne, 1897]. . . . . . . . . . . . . . . .[Rainha de Paus - Rider-Waite]


A referência do bastão é bastante óbvia. Alguns outros elementos também coincidem. Mas numa impressão geral, a mim pelo menos, a sensação evocada por ambas as imagens é muito parecida. Especialmente pelas cores vivazes, ígneas que Agache utilizou aqui.
Além disso, a pintura intitula-se "Magicienne", o que me remete muito ao caráter de magia/bruxaria atribuído a essa Rainha.



[Les Couronnes, 1909]. . . . . . . . . . . .[Rainha de Paus - Ancient Tarot de Marseille]

Já aqui, a exuberante cabeleira solta e a coroa de louros são os elementos diretos comuns em ambas as imagens. De fato, não consta nenhum bastão na pintura. Há sim, a sugestão de fogo dada pela fumaça saindo do queimador à esquerda da composição.


ESPADAS



[L'Épée, 1896]


Esta dispensa qualquer demonstração. A obra fala por si só. Uma mulher de postura forte, semblante firme, descansa sobre seu colo uma espada. Ao fundo lê-se a inscrição latina "PRO IVSTITIA TANTVM" que significa que a espada (violência) deve ser utilizada apenas por Justiça.


O ARTISTA



Alfred-Pierre Joseph Agache(Lille, 29 de agosto de 1843 — Lille, 15 de setembro de 1915) foi um pintor acadêmico francês. Infelizmente pouco se sabe a respeito dele. Iniciou sua carreira como músico, mas em uma viagem à Itália conheceu grandes clássicos e acabou se especializando em retratos e em pinturas alegóricas de grande escala. Exibia frequentemente seu trabalho em Paris. Foi membro da Sociedade de Artistas Franceses e, em 1885, ganhou uma medalha de terceira classe por seu trabalho. Teria cultivado amizade com o artista americano James Abbott McNeill Whistler e com o escritor francês Auguste Angellier; este último dedicou um livro a Agache por volta de 1893. Duas de suas peças, "Vanité" e "L'Annonciation", foram apresentadas na Exposição Universal de Chicago. Em 1895, Agache se tornou oficial da Legião de Honra.

Para conhecer algumas de suas obras clique aqui.

2 comentários:

Edy De Lucca disse...

Que lindo!! Impressionante como o semblante ingenuo do artista esconde sua força da expressão em figuras tão fortes e misteriosas...
Valeu, querido!

AugustoCrowley disse...

Perfeito!