sábado, 19 de julho de 2008

Dercy, ímpar e secular!


Ao alto de seus mais de 100 anos, a incomparável Dercy Gonçalves deixou o mundo dos mortais no seu mais típico estilo: irreverente e surpreendente.

Ela foi a um bingo clandestino na sexta, entrou de madrugada no hospital fazendo barraco, e faleceu algumas horas depois. Sem aviso prévio, num sábado qualquer, como seu último despeito frente a todos que já acreditavam que ela seria eterna.

Nascida em Santa Maria Madalena, ela foi a filha mais excêntrica da cidadezinha e parece ter feito jus ao estigma do nome de sua terra natal. Presenciou um século de história, e sempre foi a personificação da controvérsia, assumida e feliz.



Iniciou sua carreira artística antes do nascimento da televisão no Brasil, e viveu a época em que, nas palavras dela própria: “artista era igual à puta!”.

Fez história no teatro, tentou ser cantora, participou de mais de 30 filmes, novelas, programas de TV e, principalmente, nunca teve medo da autenticidade!



Aos 83 anos, ela deixou o público boquiaberto com seu topless no desfile da Viradouro. E enquanto os comentários começavam a prever sua aposentadoria, ela continuava arrasando!

Eu acho Dercy uma figura única, ímpar, sem parâmetros de comparação. Por motivos muito diferentes de sua irreverência e deboche.

O que percebo de mais interessante nela não é o fato de ser “uma velha desbocada falando 500 palavrões por minuto em público”, mas o que existiu por trás, o exemplo de autoconfiança, de autenticidade.



Ela nunca teve medo de ser ela, nunca teve medo de ser independente, nunca teve medo de falar o que pensava, independente de pra quem ou de quem fosse.

Enquanto a sociedade ditava seus padrões castradores, ela era uma mulher que fazia tudo ao contrário, completamente livre e sem medo.

Teve a coragem de vivenciar a felicidade, de buscar o gozo da vida sem pedir permissão ou aprovação para ninguém.

Viveu as glórias da beleza da juventude e soube envelhecer com todo o glamour e irreverência que lhe eram peculiares.



Fez história, chegou ao centenário exatamente a mesma: erguendo o dedo médio para os críticos e cheia de energia!

Hoje, ela deixou essa brincadeira chamada “vida terrena” e no rastro de sua ausência ficará o exemplo.

Afinal, como dizia Dercy no final de seus shows:
“Quem gostou ótimo, quem não gostou que vá se foder!”

2 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo!!!

Deixou sua marca na história!

1 século de existência e 1 século de arte... E 1 século de risos com seus palavrões.

Imaginem ela, logo estará dando sua continuidade através da voz mediúnica, psicografando Dercy, por ela mesma: "Porra Deviam ter me chamado pra escrever enquanto tava viva, pra eu ganhar o meu, não me chamar através dum filho da p...! Vá pro diabo!"

Eu gostaria de ter visto ela num bingo!! Ganhava a noite!

Vá em paz, Dercy!

Anônimo disse...

Linda homenagem Zazyel...
Muito sensível
Com certeza ela adorou...rs...
Nana