A soma dos algarismos do ano nos leva ao número 10 (2+0+0+8=10).
Recorrendo ao Tarot, encontraremos o décimo arcano maior, ou “A Roda da Fortuna”.
A “Roda da Fortuna”, ou simplesmente “Fortuna”, é um conceito universal muito difundido, extremamente comum à todas as culturas antigas e igualmente nas modernas.
O que os antigos entendiam por esse conceito é hoje vulgarmente compreendido por “sorte”. Um conceito binário :“Boa fortuna e má fortuna” (ou “boa sorte e má sorte”, ou mesmo “sorte e azar”).
Se tentarmos buscar as raízes ocidentais disso, encontraremos a Deusa Fortuna, de Roma. Trata-se de uma divindade mais antiga que o Império, que teve seu “sentido” popularizado como Deusa da sorte, do destino, cujo poder possibilitava determinar a felicidade e a vitória ou a infelicidade e a derrota. Júlio César é um personagem histórico, de cujos relatos têm-se referências ao temor/reverência que o mesmo tinha pela Fortuna.
Então, para que o conceito fique claro, usá-lo-ei de exemplo aqui: é como se mesmo estando em grande vantagem em todos os sentidos, com tudo absolutamente estável e sob controle, diante de uma batalha ou um inimigo qualquer ele reconhecesse que anceps fortuna belli, literalmente “a sorte na guerra é ambígua” ou “quem decide é a Fortuna”.
Estamos falando do inesperado, da surpresa, do insondável que nos aguarda no momento seguinte. Do potencial de mudança inerente à tudo. Do Universo que está em constante movimento, e em constante mudança.
Essa potencialidade de mudança e movimento universal é expressa no Arcano da Roda.
No Tarot Visconti-Sforza, vê-se uma figura angelical vendada no centro, e além dela, mais quatro figuras aparecem. A primeira, no alto, parece com a figura clássica de um querubim, só que traz um par de orelhas de asno e empunha um cetro, símbolo do poder, traz consigo a palavra Regno (eu reino) . A segunda, que segue em direção ao topo, tem um par de orelhas de asno que estão em desenvolvimento; traz Regnabo (eu reinarei) . A terceira figura, que se dirige para a base, não apresenta orelhas de asno, mas tem cauda do animal, trazendo a palavra Regnavi (eu reinei). Por fim, vemos um ancião que parece sustentar a roda, em posição de um quadrúpede, com as palavras Sum Sine Regno (estou sem reino).
O que me interessa aqui é somente demonstrar a idéia de que somos impotentes frente a força na Natureza e incapazes de determinar o momento seguinte.
Claro que esta é uma definição extremamente superficial do sentido que este Arcano evoca, o significado do arcanum expresso numa lâmina do Tarot jamais poderá ser entendido simplesmente pela alusão pictória, tampouco por comparações entre suas figuras e outras quaisquer.
Mas, apesar de percebermos nossa impotência e pequenhez diante da grandiosidade da Natureza/Universo, esta é sempre bondosa e complascente para conosco.
Isso também é representado neste Arcano, uma vez que o “giro da roda” sempre anuncia uma mudança positiva, assim como crescimento e prosperidade.
Fortunae, originadora do nome da carta, também reunia essas mesmas características. Da mesma forma que todas as Deusas equivalentes em todas as outras culturas reúnem.
Ela era cultuada como a Deusa da Sorte tanto como Deusa da Agricultura, da Terra, da Vida e da Morte.
Nessa reunião de características múltiplas, resume-se a regência de 2008.
Eu tenho uma simpatia particular pelo Antigo Egito, e por isso acabo trazendo a “versão egípcia” da Deusa do Ano à frente.
Assim chegamos à Hator, cujo nome original é algo próximo de Het-Heru, e significa "casa de Hórus" ou mais literalmente "morada do sol".
Hator é a personificação que os egípcios deram à Grande-Mãe Universal. Seu culto remonta a períodos pré-dinásticos e atravessa toda a linha do tempo até o perído tardio.
Percebo a torpidez com a qual nós conhecemos a religião egípcia quando leio algo como “Hator era, junto com Ísis, a deusa mais popular do Egito Antigo” ou ainda “Hator era associada com Ísis e com Bastet, porém, esta Hathor mais conhecida é a reformulação de uma Hathor pré-dinástica, muito mais antiga que foi tomando características de outras divindades com o passar do tempo”.
Ora, os egípcios tinham uma compreensão da Deusa, do Feminino, da Natureza e do Universo que exige que tiremos a venda da “educação patriarco-cristã” para que possamos entender suas divindades e símbolos.
Nunca existiu transformação, nem tomada de característica alguma. Hator é a Deusa, unificada em todas as suas facetas, é o Feminino Uno/Trino/Multíplice. Eu gosto muito de nivelar as atribuições pelo Egito Antigo, porque na mitologia e religião egípcia está muito claro a idéia da Universalidade da Deusa.
Hator é todas as Deusas do Egito.
Ela é a Senhora que gera abundância na terra e sustenta o céu.
Todos aprendemos que o centro da religião egípcia era o culto do sol. E é verdade.
O sol é o centro do nosso sistema planetário, dele provêm a luz, o calor e por consequência a possibilidade de vida no nosso planeta.
Logo, o centro da religião egípcia era a Vida.
Também aprendemos que o sol era representado por um deus chamado Rá, e mais tarde Amon-Rá. Também é verdade. O problema é que aprendemos só isso!
Qualquer pessoa que se prestar a ler alguns capítulos do Livro Egípcio dos Mortos, que creio eu, seja o maior documento remanscente das crenças deles, vai perceber que eles nunca glorificavam o sol sem juntamente louvar quem o sustenta: o céu, sua Mãe. Que, há propósito, é Hator.
Assim como nunca ali faz-se referência a atuação de um deus sem citar a Deusa que personificada como esposa, ou mãe ou irmã, provê e possibilita que o poder daquele deus se manifeste.
Quer dizer, os egípcios entendiam o Universo como Mãe, a origem de tudo como provindo d’Ela (uma das formas como se referem à Hator é “Deusa de Milhões de Anos”). Um grande útero que a tudo gesta, sustenta e recicla, o tempo todo. Por isso representavam todas as importantes leis da Natureza como Deusas: a vida (Ísis), a morte (Néftis), o equilíbrio (Maat), etc.
E a totalidade e harmonia dessas leis, assim como a benesse da Natureza para com os humanos é Hator.
No famoso templo de Dendera, as colunas possuem capitéis com rostos de Hator dos quatro lados. É nesse templo que havia a representação da abóbada celeste e do mapa do céu. O simbolismo das colunas está ligado à um, dos muitos, títulos com os quais Hator é aclamada: Senhora dos Quatro Cantos do Céu.
Ela é a Grande Mãe-Orientadora, uma vez que pela observação do movimento dos astros eles podiam se localizar no tempo e no espaço.
Há também um quádruplo sincretismo sobre Hator, onde ela é a vaca celeste (mantenedora da vida na terra), a leoa (Sekmet: o caos, a força destrutiva, o instinto selvagem da Natureza), a gata (Bastet: beleza, amor, fertilidade e maternidade) e a serpente (Uadjit, o espírito, a imortalidade, a transformação).
Hator também estava ligada à alegria, às artes, à música, ao êxtase, e são muitos os aspectos para se explanar, farei isso em postagens posteriores.
O que importa é entendermos que nesse ano, sob a regência de Hator, somos convidados à “atingir o centro da roda”, buscarmos orientação na única fonte que realmente pode entender o momento porvir: nossa Alma.
O ano de Hator é um convite ao entendimento da graça da vida, ao desfrute das maravilhas que nos são amorosamente proporcionadas à cada dia pelo Universo.
É um ano para que desenvolvamos a virtude da Gratidão, e principalmente do respeito à vida em geral.
Compreender as leis imutáveis do Universo-Mãe e orientar-se por elas nos leverá certamente ao encontro da realização onde nos aguarda Hator, a Deusa do Oásis.
Portanto: siga sua Alma, viva, ria, cante, dance, obedeça seu instinto, ouse ser você, único e autêntico, pois Fortes fortuna adiuvat (ao ousado, a Fortuna estende a mão)!
4 comentários:
Óh Fortuna, Velut Luna, Statu Variabilis!
Interessante simbolismo. A "Casa do Sol", ou seja, o Céu. Feminino, como o Egito considerava ser os atributos reais. Atribuição às mulheres, que aos homens levavam aos céu... Épocas imortais, se ousássemos dizer: Saudade delas.
Adash
E por si move...
(antes que venham as novas fogueiras da velha inquisição...)
Lindo Blogue, Zaziel. Estou em falta consigo, mas muito grata pela sua proximidade e ligação à deusa...fico muito sensibilizada pelo nosso elo.Pela sua fidelidade a Senhora do Céu, Hathor, a rainha...
Havemos de nos ver um dia...aqui ou aí e dar aquele abraço...
Rosa Leonor
texto otimo!no entanto, quando vc fala que nunca existiu uma "tomada de caracteristicas alguma",esta cometendo um erro!as divindades egipcias, por vezes, tomavam os atributos e locais de culto de outras Divindades mais antigas!assim como Osiris, tomou muitod atributos que pertenciam aos deuses Sokaris e Ketanamentiu, Deuses da Morte, mais antigos q Osiris.Assim como Isis, quando seu culto espalhou-se pelo mediterraneo,tomou muitos aspectos de Hator e de outras Deusas egipcias.
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